
Vanguardista e ousado, assim é Arrigo Barnabé. Um dos mais criativos músicos brasileiros soube explorar a riqueza e o lirismo cortante de um grande compositor do século passado para produzir seu novo show.
"Caixa de Ódio – O Universo de Lupicínio Rodrigues" faz uma merecida homenagem ao boêmio genial. De um lúgubre palco, quase que iluminado a luz de velas, a rouca e irônica voz de Arrigo corta o silencio e a penumbra da noite. Foi perfeita para interpretar a raiva e a angústia poética de Lupicínio.
Desde os anos 80, Arrigo é considerado um grande inovador. Sua marca registrada é misturar música popular brasileira e rock performático com elementos eruditos, tais como dodecafônismo e atonalismo. O resultado dessa química própria é uma identidade musical e interpretativa única.
Olgária Mattos, em artigo publicado na Carta Maior e intitulado : “O amor em tempos de cólera: Lupicínio Rodrigues e Arrigo Barnabé”, descreve o novo show:
“As canções interpretadas por Arrigo são também narrativas que tecem, simultaneamente, a compreensão do que é o amor para Lupicínio e para seu cultor. Assim, as canções mesclam revolta, indignação, sentimento de perda, mas também displicência com a amada. E humor.
Arrigo, com seus retratos urbanos, inscreve o eterno no moderno: o amor, para ele, não está sob o signo de Saturno, da ”doença divina” ou do clamor a Deus. Assim, se Lupicínio diz “Eu gostei tanto/Tanto quando me contaram/Que lhe encontraram bebendo e chorando na mesa de um bar”, e que precisou de esforços pra ninguém notar, a representação de Arrigo opera em outro registro, pois, com o tempo pulsante e acelerado da grande cidade, na disritmia das notícias dos jornais, dos clips, dos vídeos e dos sinais fantasmáticos, distancia-‐se do passado, concentrando-‐ se no contemporâneo.”
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