
Alvo fácil para os estereótipos, a família real portuguesa é constantemente retratada de forma caricata no Brasil. Sob a direção de Mika Lins, o monólogo dramático Palavra de Rainha, escrito por Sérgio Roveri, traça um caminho oposto para dignificar uma personalidade relevante. Lu Grimaldi representa Maria I (1734-1816), a primeira mulher a assumir o trono em Portugal. Conhecida como a Piedosa e também como a Louca, a mãe de dom João VI teve a trajetória marcada por tragédias familiares e conflitos religiosos. Morreu esquecida e perturbada em um convento de carmelitas no Rio de Janeiro, dando origem ao apelido. O espetáculo é marcado por um conjunto de acertos. A dramaturgia de Roveri promove um questionamento abrangente sobre a velhice e a dependência capaz de ultrapassar a figura histórica. Lu brilha em uma interpretação econômica e tira proveito de um trabalho de corpo que a permite interagir com o cenário criado por Cássio Brasil. A encenação concebida por Mika revela-se de extremo bom gosto e oferece belíssimos e raros efeitos visuais em um conjunto que peca pelo final, um tanto abrupto e enigmático.
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